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Sodiga em foto dos anos 1950 |
por Lulu
Alfenas
Bondade é amar as pessoas mais do que elas merecem. Joseph Joubert
Origem
Edgard Alfenas nasceu no Arraial de Nossa Senhora de
Oliveira, distrito de Piranga, Minas Gerais, em 26 de junho de 1909, morreu em Conselheiro
Lafaiete, Minas Gerais, em 04 de fevereiro de 1990 e foi sepultamento em
Senhora de Oliveira, em 5 de fevereiro de 1990.
Foi pecuarista, agricultor e político. Viveu em uma região de
grandes mudanças políticas e socioeconômicas as quais podem ser percebidas até
nas variações dos nomes da terra natal durante sua vida: Nossa Senhora de
Oliveira (1909 a 1923); Piraguara (1923 a 1953) e Senhora de Oliveira (1953 a
1990).
De família católica, foi
batizado pelo Padre Jose Affonso Painhos, em 31 de julho de 1909, tendo como
padrinho Sebastião Rodrigues Pereira e como madrinha Maria da Conceição
Milagres Oliveira, esta filha de Alexandre Rodrigues Milagres e Francisca da
Silva Araújo, esta filha de um casal pioneiro da região, Furriel José Ignácio
da Silva Araújo e de Rita cândida do Sacramento.
Sodiga veio da genética Rodrigues Pereira, por parte da mãe,
filha de João Bonifácio Rodrigues Pereira. Por parte de Pai, sua origem mais remota no
tempo, examinada apenas nos limites da região de Guarapiranga, aponta para o
casal Alferes Francisco de Paula Alfena e Umbelina Roza de Jesus, que viveu na Graminha,
às margens do Rio Xopotó, do lado de Brás Pires, na divisa entre os dois
distritos. Segundo o censo de 1830, o Alferes tinha seis filhos. Eliziário
Glória Alfena, o avô de Sodiga, nasceu nessa família depois do censo e, em 1848,
casou-se com Tereza Tranquilina do Amor Divino
com quem teve sete filhos, dentre eles
Garcez Glória Alfenas, que se casou com Adelina Maria da Encarnação e com ela teve,
de 1892 a 1912, nove filhos. Garcez casou-se pela segunda vez com Ana Marques
Faria, com quem teve mais um filho, em 1939.
Vida
privada
Em 25 de maio de 1929, Sodiga casou-se com Rita Henriques de
Miranda (Sadita), filha de João Henriques de Miranda, o João da Vargem, e de
Deolinda Maria da Encarnação. João da Vargem é trineto do Alferes Cláudio Joze de
Miranda; e Deolinda, da linhagem de Antônio Vieira de Souza. Este é filho de
Fidelis Vieira de Souza e de Maria Rita de Jesus, a velha do Fundão, cuja
alcunha tem fundamento em sua longevidade, viveu 115 anos.
De 1930 a 1950, Sodiga e Sadita tiveram 11 filhos dos quais oito
sobreviveram à primeira infância. Nos primeiros anos de casados, viveram em uma
pequena cabana no Córrego da Graminha e, posteriormente, no lugar denominado Vargem, onde moraram por
alguns anos numa casinha da encosta leste de sua propriedade. Neste local, ao pé de um morro, Sodiga
construiu uma casa grande com quartos e dimensões suficientes para a família e,
por volta de 1939, para ela se mudou. Em 1955, por força de demandas políticas/administrativas,
que exigiam maior presença na cidade, mudou-se para sede do município e passou
a morar numa casa na Praça São Sebastião. Ali morou por vários anos e,
finalmente, mudou-se para a Praça Monsenhor José Justiniano Teixeira, 64, onde
viveu até sua morte, em 1990
Antes do casamento, Sodiga tinha sido tropeiro, em atividade
casual, e peão, de amansar cavalos e burros. Viajou com companheiros como Zé do
Alcibíades, seu primo e amigo; Deoclécio Rodrigues Pereira, outro primo; e com
o irmão mais velho, Otorgamim Gloria Alfenas, este tropeiro de verdade. Passado o período dos eflúvios da juventude e
dos prazeres das viagens em lombo de burro, em que conduzia tropas de mulas
carregadas com toucinho e fumo de rolo, que levava para Ouro Preto e de lá
voltava trazendo cargas de sal, querosene e todo tipo de encomenda.
E logo veio o casamento e com ele as responsabilidades, então
se ateve na formação de uma família e passou a viver como pequeno agricultor plantando
milho, cana de açúcar, feijão, arroz de brejo, para o comércio; e frutas de
pomar e hortaliças, para o consumo da família. Na busca da sobrevivência e de
alguma economia, produziu rapadura e cachaça, inicialmente em engenho puxado por
cavalo, mais tarde por um tocado por roda d’água. Em paralelo a essas
atividades, sua fazenda produzia também leite e creme entregues, diariamente, ao
comércio do arraial. Como a maioria dos
habitantes da região, Sodiga tinha uma pequena criação de galinhas e de suínos em
quantidades suficientes para sustentar a casa com carnes, gordura e ovos. E, para contrabalançar o excesso de proteínas e
da gordura suína em sua mesa, contava com horta e um pomar com goiabas, fruta
de conde, jambo, laranjas e mexericas.
Para os trabalhos na pequena fazenda de 64 alqueires e nas
terras que possuía no lugar chamado buraco, na estrada de Brás Pires, contava com
a ajuda de chefes de duas famílias agregadas, principalmente a do Atílio e a do
Pedro Grosso. Nenhum contrato era escrito, era tudo no fio do bigode. Para
completar a necessidade de força de trabalho na roça, havia sempre diaristas ou
contratados por tarefas negociadas por eitos. Na maioria das vezes, o trabalho
era a molhado, ou seja, o contratante tinha que fornecer almoço e café da tarde
com algum complemento: broa de fubá, angu doce, cuscuz de fubá. Não havia boas alternativas:
muitos afazeres para a dona da casa, pouca sustança na comida dos
trabalhadores.
Vocação e
vontade de poder
O fato de ser um homem de bom humor, de bem com a vida e amigo
de brincadeiras, às vezes até um pouco brutas, o tornava popular e de fácil
convivência. Gostava de estar perto das pessoas, talvez por isso o destino o
tenha jogado para um lado extraordinário: a aventura perigosa de tratar e
cuidar de doentes das redondezas. Com o passar dos anos, a cura, de quem precisava
de ajuda e tinha poucos recursos, passou a ser, para ele, uma obrigação. Mantinha
em casa um enorme estoque de amostra grátis que conseguia com representantes de
laboratórios. Costumava indicar este ou aquele remédio para seus amigos, com comportamento
no limiar da profissão médica. Mas não
se pode dizer que essa vida, fora do senso comum, tenha começado assim sem mais
nem menos. De fato trata-se de uma extravagância que não surgiu de um passe de
mágica, ocorreu aos poucos em doses homeopáticas. Parece que sua alma regozijava-se com a vocação, e
a prática aprimorava o dom, algo que ocorreu em um processo lento, não em um
episódio: isso tomou curso quando ele era chamado para aplicar uma injeção, realizar
um parto, curar uma dor de barriga, espremer um berne e até desencravar uma
unha. Em paralelo às suas primeiras
experiências no tratar doenças, houve um aprendizado com médicos formados, cujo
processo se desenvolveu mais ou menos assim: a população confiava nele, porque
ele já trazia algum conhecimento do berço embalado por sua mãe que sabia curar
com chás e raízes. O fato é que Sodiga era chamado para qualquer episódio de
doença, mas muitas vezes acontecia de o caso ser mais grave e superior às suas
possibilidades, nestas ocasiões, ele mandava chamar o médico ou ia pessoalmente
buscá-lo — chegar nele para pedir um favor não causava nenhum constrangimento —.
Criou-se o hábito de ele ser
intermediário entre o doente e o doutor. Aos poucos, fez amizade com os médicos
e os acompanhava, seja porque não conhecessem as estradas de Piraguara, seja
porque tivessem medo das noites escuras e assombrações, em que ele próprio
acreditava e as via. Os médicos tornaram-se companheiros de viagens e de noites
varadas em estradas esburacadas e poeirentas e, na invernada, cobertas de lama.
Entre obstáculos e enfrentado a friagem
das madrugadas, Sodiga observava a atuação dos médicos e adquiria conhecimento
prático para o atendimento profilático (tratamento preventivo, sendo utilizado
para designar algo capaz de prevenir ou atenuar determinada doença) sendo que
assim agia sempre que não houvesse a possibilidade da presença de um médico.
Dr. Liberato Miranda, de Rio Espera, foi sua grande amizade e inspiração. Já em
1945 se tornaria seu compadre ao fazê-lo padrinho de um dos filhos. Nesta época,
em que a medicina era um bem escasso na região, o médico mais próxima vivia a
mais de 20 quilômetros do arraial de Piraguara, e nem sempre estava em casa ou
disponível. A vida estava sempre por um fio,
caso a doença chegasse com força. Era comum encontrar-se com essas duas figuras
pelas estradas: Dr. Liberato montado em mula boa de sela, e Sodiga, em de burro,
ou no seu alazão, no caso de viagens curtas. Percorriam léguas para socorrer os
que não podiam ser levados ao médico. Mais tarde, com Sodiga já na política, Dr.
Liberato mudou-se para Saúde–MG e depois para Divinópolis-MG, deixando um
grande vazio no atendimento médico da região, mas a lacuna foi logo preenchida por
Dr. Solom Ildefonso, um excepcional clínico morador de Piranga. Com este, Sodiga compartilhava mais do que curar,
a caridade silenciosa e a franqueza com os mais necessitados. Quantas vezes não se ouviam Dr. Solom
bronqueando com o paciente: — Você não tem nem como comprar comida, como quer
me pagar! — Dr. Solom foi uma grande influência em sua vida, e ambos pendiam
para a empatia com os mais pobres. A presença de Dr. Solom em Senhora de
Oliveira aumentou depois que Sodiga assumiu a Prefeitura Municipal.
Vida
política
Em 12 de dezembro de 1953, o arraial foi emancipado e, no ano
seguinte, haveria eleições. Em 1954 enquanto
o município era governado por intendentes nomeados por JK (foram dois), Sodiga era
jogado no meio do burburinho, desta vez o da política, em que entrou de corpo e
alma. A decisão foi incentivada e depois apoiada por João Camilo Milagres, seu amigo
e cunhado, casado com sua irmã Zelina Alfenas Milagres. Para se tornar candidato, teve que sair de seu
partido de origem, O PTB – Partido Trabalhista Brasileiro, de Getúlio Vargas, e
ingressar no PR – Partido Republicano. de Clóvis Salgado que apoiava JK em nível estadual.
Rompia-se assim, em nível nacional, com Getúlio
Vargas (o que significava pouco, pois aquele, provavelmente, nem sabia se
Sodiga e Senhora de Oliveira existiam quando deu um tiro no peito, em agosto de
1954) e, localmente, afastava-se de grandes amigos como Francisco Inácio
Milagres de Araújo, o Chico Inácio; Temístocles Milagres da Silva, Dodô; e Franklin
Francisco Vieira de Souza, Franklin Fidelis, (o que significava muito, por
causa de amizades e laços de família). O que mais lhe doeu foi não ficar do
lado político do grande amigo de infância, primo e compadre José Rodrigues
Lana, popularmente conhecido como Zé do Alcebíades. Muitas foram as perdas
neste sentido. Sodiga aprendeu logo que
marcar posição política exige estômago forte e vontade de poder, pois costuma atrapalhar
as relações com pessoas amigas, mas teve que enfrentar este amargo afastamento de
muitos da UDN – União Democrática Nacional, de tendência conservadora, e do PSD
– Partido Social Democrata, da direita moderada, que numa coligação estranha,
aqui se beijavam enquanto no resto do país digladiavam-se. Contudo, nenhuma dessas perdas teve a dimensão
da morte, em 13 de junho de 1954, de seu amigo, cunhado e companheiro de
partido, Joaquim Inácio da Silva Araújo Sobrinho, o Quinzinho Inácio.
Mas a jornada política tinha que continuar, e abraçado a João
Camilo Milagres, que, naqueles dias de campanha, saboreava a recente vitória de
seu filho, José Milagres Araújo, que se elegera no ano anterior prefeito de
Piranga para mandato (1954 a 1958); a Tomé da Silva Araújo, José Rocha da Silva,
o Duca Rocha; a José Pedro da Silva Araújo; a Sotero de Souza; e entre tantos outros.
Externamente o PR tinha boa estrutura com Ciro Maciel, deputado estadual,
natural de Piranga, e João Nogueira de Resende, deputado federa. Assim com bons
alicerces, Sodiga estreou bem e foi eleito prefeito de Senhora de Oliveira tendo
como vice Francisco Condé. Resultado: a chapa venceu o excelente candidato da
coligação adversária, o farmacêutico Wolney Carlos Marcenes, por minguados 64
votos de vantagem, contudo, suficientes para levá-lo ao mandado tampão de três
anos, de 1955 a 1958.
Sua posse, em 1955, teve festa para a qual contratou os
serviços da pensão da competente Maria Gomes, que preparou tudo para
impressionar as autoridades e o povo: comida típica das festas da região:
leitoa assada com direito a maçã na boca; tutu de feijão preto; carne de
frango, macarronada coberta com queijo ralado e ovos cozidos; e para beber,
muita cerveja e alguma cachaça. As pompas da comemoração carregavam muitos significados
e emoções: o orgulho da autonomia alcançada, agora cristalizada com a
autoridade local consagrada pelo voto popular; o efeito afrodisíaco da vitória
que derrubava as forças, que segundo a visão dos vencedores, eram muito
conservadoras e que haviam dominado a região durante anos. O
Certo é que além do sabor da vitória para o mandato de 1955 a 1958, havia a
alegria de escrever, no rodapé da história do município, os feitos do PR na
primeira eleição para prefeito municipal.
A experiência dessa primeira vitória, somada às qualidades
das lideranças do partido, responsáveis pela manutenção do espírito de grupo até
a próxima eleição, que se realizaria em 1957, foram os principais ingredientes que
elegeram Tomé da Silva Araujo para o mandato de 1958 a 1962. Tomé, por sua vez,
fez um excelente governo e tornou ainda mais fácil a volta de Sodiga para um
segundo mandato, de 1962 a 1966. A partir de 1964, já instalada a ditadura
militar no Brasil, Sodiga foi para a ARENA, mas o espírito de união do antigo
PR sobreviveu a essas mudanças e contribuiu para a eleição de José Luís de Senna
Pereira (1966 a 1970) e, no curso da história local, Sodiga teve papel fundamental
na eleição de seu filho, José Geraldo Alfenas, o Zé de Sodiga, para o mandato
tampão de 1971 a 1972.
A hegemonia política de Sodiga, como puxador de votos de
prestígio popular, tornara-se visível naquelas primeiras décadas após a
emancipação do município. Mas o diferencial político evaporou-se quando surgiu,
como adversário, José Maria da Silva, um candidato que reunia muitas qualidades
e que tinha o mesmo estilo e ferramentas: o atendimento à saúde e a farmácia. Zé
Maria tinha sido um companheiro político dos tempos do PR e abriu seu próprio
caminho na busca de realizações e liderança. Sodiga, com 64 anos, já não exibia
a mesma energia e destreza política que o projetara. Ao sair do grupo que formara
o PR, ele próprio determinou seu declínio político. Daí para frente foi eleito
vice de Vavá uma vez, mas já não havia o romantismo e a alegria da trajetória
iniciada nos anos 50 e encerrada nos anos 70, passou a ser coadjuvante, e outros
agora teriam o protagonismo.
Legado
Morrer rico
é muita falta de imaginação. (José Carvalho, da FERBASA)
Sodiga teve seu patrimônio tangível reduzido por causa da
política. Suas perdas financeiras mais significativas aconteceram porque ele decidiu
avalizar pessoas “amigas”, numa época em que alguns deles se aventuravam em
negócios sustentados por empréstimos com juros altos. Em política isso costuma
virar uma bola de neve incontrolável. O resultado dessas estripulias
financeiras apareceu em 1970 quando teve que vender a fazenda da Vargem para
saldar valores de sua hipoteca, sobraram-lhe alguns minguados valores a receber
em suaves prestações pagas pelos compradores da fazenda da Vargem. Nessa altura de sua vida pública, a fazenda já
lhe rendia pouco e as dívidas tinham que ser saldadas. Essa perda não o abalou
muito, o importante é que a família já estava criada, e ele tinha condições
para viver com simplicidade e dignidade. A riqueza, que nunca teve, ao que parece, não fazia
parte de seu critério de sucesso. Sua felicidade nunca esteve ligada a contar
dinheiro; talvez, sim, em contar curas e; depois que se apaixonou pela política,
amigos e votos.
Legado ao município.
Fique satisfeito em
fazer o bem e deixe que os outros digam o que quiserem
Pitágoras
Um prefeito deixa sua marca segundo suas prioridades e
limitações financeiras dos cofres da prefeitura que reduzem muito o foco das
escolhas Em 1955 o cenário não era dos mais favoráveis: ruas precisavam ser
calçadas, água potável devia chegar às casas das praças e ruas abertas na
lateral da cidade (a cidade alargava-se para os lados do Ribeirão da Oliveira)
e às ruas mais altas do povoado. Sem transportes adequados, as regiões mais
distantes necessitavam de escolas mais perto das crianças. Não se pode dizer
que a antiga sede, Piranga, tenha abandonado os seus distritos, mas arraial é
sempre arraial, e seu peso político é sempre menor do que o da sede; destarte,
tudo estava por fazer. Em suma: pouco dinheiro para muita obra é o que o
prefeito da cidade recém-emancipada tinha que enfrentar. Então restava muito cuidado nas escolhas de
prioridades, e elas ocorreram no governo de Sodiga em escopo reduzido: Saúde,
Saneamento básico e educação.
Sua eleição consagrou a saúde como o bem maior a ser buscado
pelo poder publico do município. Todos o conheciam por levar os doentes mais
graves para serem tratados nos hospitais de BH, o que acontecia muito antes de
1953, e logo que assumiu “poder”, colocou a prefeitura dentro dessa filosofia. Naquela
época, a prefeitura não tinha sede própria nem carro, só uma carroça e o um
burro, e pouquíssimos empregados. Mas como o prefeito colocava a vida em primeiro
plano, alugava um jipe e levava os doentes mais graves para BH, e, muitas das vezes,
eles tinham que ficar em pensões do Bairro Santa Efigênia, ou na casa de sua
irmã Presciliana Alfenas, Peixe, e depois da morte desta, foi substituída pela
sua filha, Celi Magalhães Fidelis que juntamente com a irmã Glória tinham a
mesma paciência e bondade da mãe. Além
disto, essa casa em Santa Tereza foi, durante décadas, o porto seguro para
muitos parentes que chegavam a BH de mudança. Se todos que por ali passaram como estudantes,
visitantes ou hóspedes temporários, somassem suas gratidões num espaço físico,
se poderia lotar o Mineirão de beijos e abraços. Peixe e suas filhas são partes fundamentais da vida de Edgard Alfenas, assim como de muitos outros parentes e amigos delas.
Com tantas vindas a BH para implorar internações, com pouco
tempo Sodiga passou a ser reconhecido e favorecido por enfermeiras, médicos e
diretores de hospitais da região hospitalar de BH, que perceberam seu desapego
e ajudavam-no.
Em seu segundo mandato, conseguiu que Dr. Moacir Salim se
mudasse para Senhora de Oliveira, e a população finalmente pode contar com um
médico mais próximo de casa.
As intervenções urbanas contemplaram só o essencial: no
primeiro mandato, a prefeitura trocou a tubulação , ampliou a rede de distribuição
da água captada nos montes ao sudeste da cidade para uma pequeno depósito próximo ao Morro Cavado; comprou um imóvel onde instalou
a sede da prefeitura. Construiu duas pontes, uma de concreto para a saída de Piranga,
outra de madeira para a saída de Brás Pires.
No segundo mandato, construiu uma nova caixa d’água na
limeira. Quase todas as ruas do centro receberam novas tubulações e estabeleceu-se
um limite de gasto e forma de cobrança baseado no critério de através da
chamada pena d’água. Em Santana de
Piraguara foi construído um grupo
escolar.
As causas
do rompimento com o grupo PR
Surgiu um problema político durante o mandato de José Luiz de
Senna. Nem tudo que ocorreu naquela época chegou a ser revelado e, com a morte
dos protagonistas, pouco se sabe a respeito. Os bastidores da política, por
menor que seja o município, jamais chegam com clareza aos eleitores, e aqui
cabe o ditado popular, “lugar pequeno inferno grande”. Alguns acontecimentos, daquela época, nem os
cabos eleitorais entenderam com clareza. O certo é que José Luiz de Senna e
Sodiga se desentenderam. Não se sabe se a morte de João Camilo Milagres, em
1968, o grude que unia o partido, teria sido o que faltou para que não houvesse
essa distensão. O que parece mais visível, é que a polêmica em torno da luz
elétrica teria dado origem à pendenga. A
cidade vinha de um apagão. Ruas e casas escuras. Mas havia uma decisão a ser
tomada. Sodiga defendia a manutenção da Usina (que fora de Piranga), mas o novo
prefeito, e o grupo que o acompanhava queriam abandonar a ideia de manter a usina
velha, só a CEMIG resolveria. Ao usar um argumento verdadeiro, de que o preço
da eletricidade iria subir e a tornaria inacessível para a população mais
pobre, Sodiga encontrou uma forte oposição interna em “seu” grupo que, com
sobra de razões, achava que o progresso da cidade não ocorreria sem
eletricidade mais potente. Não houve interesse em conciliar as duas correntes,
e Sodiga rompeu com o grupo, ou vice-versa.
A posição de José de Senna, com bastante apoio popular, foi vitoriosa e
a Luz de CEMIG foi inaugurada durante seu governo, com pompas e fogos. Na
cerimônia não havia a presença de Sodiga.
Destarte José de Senna teve que marchar sozinho na eleição seguinte ao
seu mandato, e então apoiou Sebastião Veloso Primo, um homem de bem e bastante
popular, mas que não tinha estrutura partidária para a campanha, o que deu a
vitória a um filho de Sodiga, José Geraldo Alfenas que teve como vice Tonico Bernardes, num mandato tampão
de dois anos, os quais nem cumpriu na totalidade, devido a um acidente
automobilístico que o afastou do trabalho por quatro meses. O esfacelamento do
grupo que havia sustentado a política e elegera prefeitos por quinze anos
consecutivos, de 1954 a 1972 levou a vitória de José Maria da Silva, um homem
também dedicado à saúde, que fez
prevalecer o sucesso daqueles que atrelaram, até então, saúde com votos. E
assim, as mesmas condições que haviam elegido Sodiga tiraram-lhe o poder na política.
Morte
A questão não é se existe vida depois da morte. A questão é se você viveu antes da morte. Osho
A partir da metade dos anos 1980, Sodiga viu-se às voltas com
problemas de saúde: a pressão sanguínea alta e as dificuldades de
controlá-la. Entre derrames e isquemias,
sua vida se esvaia aos poucos, e a doença o tirou das ruas e do convívio social.
Já em 1988, tinha dificuldades para andar. Permaneceu na cama por meses até que,
em fevereiro de 1990, foi hospitalizado em Conselheiro Lafaiete, onde faleceu com
septicemia devido a complicações urológicas.
— Sodiga praticou uma humildade incrível, com uma entrega
total no servir o próximo — foi o que disse Monsenhor José Justiniano Teixeira,
em 5 de fevereiro de 1990, na homilia
durante a missa de corpo presente. O então prefeito municipal, Osvaldo Heleno,
subiu ao altar para anunciar que havia decretado três dias de luto municipal.
Maria Rita de Jesus está minha bisavó e Umbelina de Jesus6mi há avó. N6tem contato com a família, mas já ouvi falar de nossos parentes na Graminha. Vou oesq6 mais sobre o tema. Obrigado
ResponderExcluirMuito bom o legado ,que meu tio avô deixou. Foi um homem humilde e muito caridoso.
ResponderExcluirQual o seu nome? Sua mensagem é anônima
ExcluirQue saudade do vô Sodiga e da vovó Safira.. Não esquecendo da Guimar... Carla Piló Alfenas, filha do Gracez, vulgo bucéfalo
ResponderExcluirAcima houve um erro de digitação. O nome da avô dela é Sadita, apelido de Rita Henriques de Miranda.
ExcluirRecentemente tive a grata satisfação de conhecer Julio Cesar, filho de Vicente Inácio e Dorinha, neto de Hormezinda, portanto bisneto de José Pedro da Silva Araújo que foi um político atuante no Partido Republicano nos tempos de Sodiga, conforme citado na biografia. Julio Cesar e eu recordamos da importante ajuda que seu pai, Vicente Inácio, prestava a Sodiga, em Belo Horizonte, quando este aqui trazia os doentes em busca de tratamento com a medicina mais avançada. Vicente Inácio, além de ter um grande prestígio entre os médicos e enfermeiros, tornou-se um profissional gabaritado em radiologia no INPS. Naquele tempo Raio-X era o meio mais rápido e talvez o mais avançado para avaliar lesões pulmonares e fraturas ósseas, principalmente. Nem é preciso dizer do quanto o serviço era útil e requisitado na precisão de diagnósticos, e, diga-se, de difícil acesso em razão da grande demanda. Fui testemunha ocular de como Vicente Inácio facilitava o atendimento para aos doentes trazidos de Senhora de Oliveira. Mas não era só isso, sendo muito prestativo e amigo, socorria Sodiga ao apresentá-lo aos médicos e dirigentes dos hospitais, e seu prestigio pessoal abriu muitas portas de clinicas e possibilitou internações mais rápidas.
ResponderExcluirPara mim é difícil falar em Vicente Inácio sem lembrar-me de como ele tocava violão bem, desde os tempos em que morava Senhora de Oliveira quando tinha um cachorro que fazia compras nas vendas da cidade: levava a lista de compras e o dinheiro num envelope e volta com as mercadorias e o troco. Era um cachorro de valor. Chegava à venda, punha as patas dianteiras sobre o balcão, e mostrava o cesto de compras.
Assisti TV muitas vezes na casa do sô Diga. Eram pouquíssimas casas com TV naquela época e aproveitava para pedir a chave para ligar a torre de televisão, pois se não ligasse as TVs não pegavam.
ResponderExcluirobrigado pelo comentário, mas gostaria que você se identificasse, pois registra um aspecto interressante daquela época, ou seja, o controle sobre a torre de TV.
ExcluirUma belíssima história de vida.
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