Glória Magalhães Albuquerque
Era Janeiro de 1962,fui passar uns dias na fazenda de meus tios, em Senhora de Oliveira, eu estava grávida, no sexto mês, com uma barriga bem grande.
No fim do mês meu marido voltou sozinho a Belo Horizonte, por uns três dias.
Segunda-feira, dezessete horas, acabei de jantar, comecei a suar de calor devido aos pratos de sopa fervendo que tomei. Encostei-me na janela da cozinha para receber o ar fresco que vinha do terreiro. Uma chuva fina começou. Levantei o braço esquerdo e apoiei no batente da janela. Eu olhava minha tia Amélia cortando as carnes de um porco que o tio havia matado naquela manhã. As crianças dela estavam sentadas junto a uma mesinha, ao lado do fogão de lenha e jantavam.
— Já jantou Glória? A tia perguntou.
—Comi dois pratos de canjiquinha. Respondi
Naquele exato momento senti um impacto no meu ombro esquerdo, como se fosse um tiro, mas não vi nada, desmaiei, caindo longe da janela, no meio da grande cozinha. Um dos meus sapatos voou e caiu dentro do prato da minha priminha Beth. Segundo ela, um fogo desceu da minha mão esquerda, isto é, da aliança de ouro, até meu ombro.
Fui carregada pelo meu tio Othorgamim para o quarto e logo voltei a mim. Contaram-me que fui atingida por um raio. Eu fiquei toda molhada e falei com a tia que estava perdendo o neném. Minha tia ficou preocupada e mandou chamar o médico na cidade. Era meu tio Sô Diga “médico prático”, mas um bom médico.
Minha tinha saiu do quarto e voltou rindo, dizendo:
— Glória, você não está perdendo a criança, a bolsa não rompeu. A cozinha está molhada, mas é de xixi, eu cheirei e senti que é urina, você se molhou toda, de susto.
A chuva continuou, ficou mais forte, anoiteceu e as águas do rio cobriram a ponte, meu tio Sô Diga não pode nem ser avisado.
Em Senhora de Oliveira, no mesmo dia e mesma hora, um raio caiu em outra mulher grávida que se machucou na boca ao ser jogada no chão, pelo impacto.
No quarto eu continuava de repouso uma hora ou mais, minha barriga ficou dura como pedra, sob forte contração, e o lado esquerdo estava muito mais quente que o direito. Como toda grávida comecei a pensar bobagem, será que meu filho vai ficar com problemas sérios e esse meu lado esquerdo tão mais quente que o lado direito, meus Deus, o neném vai nascer com um lado queimado e o outro branco?
Então olhei para o quadro de Nossa Senhora na parede do quarto e fiz uma promessa: “Se meu filho nascer normal, eu vou consagrá-lo para Nossa Senhora e vesti-lo de azul e branco por sete anos”
No dia seguinte meu tio chegou para me visitar e saber da minha saúde e logo perguntou às minhas primas:
—Onde está a grávida que caiu um raio nela?
— Ela está lá atrás da casa, em cima do pé de goiaba. Responderam as meninas.
Meu tio mandou que eu descesse da goiabeira e me garantiu que um raio, quando não mata nem machuca, pode fazer muito bem, “você vai sarar daquelas dorzinhas na coluna e todo mal-estar da gravidez, e melhor ainda, você vai ter um filho super inteligente, porque a descarga elétrica faz bem para o cérebro”.
“Vou esperar pra ver”, pensei.
Nos dias seguintes, quando começava a chover. Tote meu marido entrava comigo para debaixo da mesa da cozinha para eu não servir de pára-raios, porque é o que dizem das grávidas.
Três meses depois, em maio, nasceu minha primeira filha, muito inteligente, que vestiu azul e branco por sete anos, mas sempre queria usar outras cores. Até no jardim de infância, São José, ela usou xadrez azul e branco, escolhida a escola pela cor do uniforme. Ao completar quinze anos ela quis usar o vestido, a meia, o sapato, a calcinha, tudo vermelho, para matar a vontade. E ela ganhou tudo, bem vermelho.
Acho que o efeito do raio aconteceu e valeu para os cinco filhos, porque são todos inteligentes.
Obs: O dito popular diz que “Raio não cai duas vezes no mesmo lugar”, mas cai três vezes na mesma família.
1ª. vez – Fazenda Felipe Alves caiu na mãe e filha, Luciene;
2ª. vez – Caiu no segundo filho, Luiz Flávio, na Destilaria de Álcool, através do telefone;
3ª. vez — Há pouco tempo caiu na Luciene, através do microfone de videokê na Fazenda Malacacheta.
Todas as três vezes, os raios caíram perto de Senhora de Oliveira.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEu conheço a história do primeiro raio, mas os outros...
ResponderExcluirSe a Luciene tivesse que usar azul e branco pelo resto da vida, ela teria que ser da aeronáutica.
Vânia de Nonô(Nonô de Peixe)