Ali perto, pedras esperam para serem quebradas no martelo e medidas em latas de banha ou querosene. A base da nova Igreja Matriz precisa de muitas latas de brita. Ganha-se um cruzeiro por lata cheia, não há criança da cidade que não queira quebrar pedras, a meninada vai ficar bem de bolso, o bar dos Lanas vai ficar cheio, vai sair menino pelo ladrão; a geladeira a querosene foi acesa, muitos picolés serão vendidos. Por enquanto nada de Igreja, parece que a comissão da construção foi desfeita, alguém cavaqueou, e o Padre pôs o pé no freio. A esplanada e o campo de Futebol, onde os meninos jogam bola, foram doados para a construção da Igreja, o benfeitor chama-se João Camilo Milagres. Todos na Cidade sabem disso, mas ninguém diz: "Oh!"
Mas agora é hora de a pelada começar, logo se estabelecem as regras do jogo, como normalmente ocorre, dois jogadores, tipo cabeça de grupo, irão escolher, em sucessivas intercalações, os jogares que irão compor os dois times. O dono da redonda se define como um dos melhores, e nisso não há injustiça alguma, mas ele não se contenta com sua metade do espetáculo, define também o cabeça de grupo do time rival, e nisso já não é tão justo; mas ninguém diz: "Oh!"
A praxe, um sorteio na porrinha ou no par ou ímpar define, entre os dois cabeças de grupo, qual escolhe primeiro; mas hoje não será assim, o dono da bola quer escolher primeiro e já disse: "meu time é o de camisa". E assim, esses cabeças de grupo vão formando os times. Quem é escolhido pelo adversário do dono da bola tira a camisa e a joga no monte de pedras mais perto. Os últimos a serem escolhidos são os pernas-de-pau, ninguém se sente humilhado, ser ruim de bola não é tão ruim assim. Algazarra e camisas jogadas nas pedras, lagartixas correm assustadas e procuram novos montes de pedras; mas ninguém diz: "Oh!"
Começa o jogo, foi ou não foi falta: há uma pequena discussão, o dono da bola se acha justo o suficiente e obedecido mais que suficiente para afirmar: “foi”; e para o lado de lá. Todos agora sabem que o dono da bola, além de ser jogador do time de camisa, é o juiz da partida. Vamos à peleja: uma bola espirrada escapa pela lateral, "bola nossa.", apressa-se em dizer o dono da bola; mas ninguém diz: "Oh!"
E assim, a partida segue normal, até que o dono da bola diz que sofreu uma falta, quem a teria cometido não concorda com o julgamento, não aceita. Um rápido bate-boca. Alguém diz: "Oh!" O dono da bola bota a bola debaixo do braço e diz, Uai! O que teria cometido a falta, ofendido e chorando, sete anos, sai do jogo e vai embora, tão pequeno e tão renitente; e nem bola tem. Mais ninguém diz: "Oh!"
O Dono da bola bate a falta. Duas pedras delimitam a meta, não há balizas, a bola passou alta, mas ninguém contesta, o juiz diz: "foi dentro". O Jogo continua, os adversários do dono da bola estão perdendo, mas querem jogar, agora eles estão em minoria, perderam o jogador renitente, nem tanta falta faz, será que é por isso que ninguém disse: "Oh!"?
Uma senhora bonita, alegre e jovial debruça-se no parapeito da pequena varanda a poucos metros dali. O dono da bola tem mãe? Tem e ela diz, "Uai!" Todos dizem: "Oh!".
O jogo acabou.
Ele sai com ela debaixo do braço alisando-a só por alisar, é o dono da bola.
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